sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dedek Mraz e o Ano Novo na Eslovênia

- Olha o meu pesente do Camaráz!

Foi com esta frase que eu fui lembrada ontem que, definitivamente, minhas filhas estão incorporando as tradições do nosso novo país, a Eslovênia, e isso, é claro, porque eu de certa forma incentivo. Eu adoro conhecer novas culturas, seus costumes e tradições e sempre que posso levo as minhas filhas junto.

Quer saber quem é este tal "Camaráz"? Vem com a gente!

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Desde que escrevi o post sobre Miklavž para este blog que venho querendo saber mais sobre o Dedek Mraz (Vovô Frio, em tradução literal), uma espécia de Papai Noel que vem no Ano Novo (que aqui se chama Silvestrovanje) para as crianças eslovenas. Ele traz presentes para os pequenos na madrugada de 31/12 para 1/1 e é conhecido hoje como o Papai Noel comunista, porque, nos tempos da ex-Iugoslávia, ele era - e pelo que tenho visto aqui continua sendo - muito mais popular que o Papai Noel símbolo da Coca-Cola (para quem não sabe, o Papai Noel como conhecemos hoje é fruto de uma campanha deste refrigerante).

Aliás, na Eslovênia (que fazia parte da Iugoslávia, como a Sérvia, Croácia, Bósnia, Montenegro e Macedônia) comunista, a Coca(-Cola) era substituída pelo refrigerante local, também comunista, a Cockta. Ou seja, aqui as tradições eram diferentes e mesmo hoje, 21 anos após a independência do país, continuam sendo. O Natal do dia 25 não é comemorado até hoje por muitas famílias e, mesmo as que comemoram, muitas esperam para presentear as crianças no ia 31. Outras, presenteiam nos dois dias, com presentes mais simples. E outras adaptam a tradição, como falarei abaixo.

Dedek Mraz é muito mais popular que o Papai Noel entre a criançada. E o governo, mesmo não sendo mais comunista, apoia isso, tanto que todo ano tem a cavalgada do Vovô Frio pelo Centro Antigo de Ljubljana, capital da Eslovênia. A cavalgada acontece do dia 26 a 30 de dezembro, sempre às 17h, nas margens do rio Ljubljanica e segue pelas principais praças da cidade. Eu estava ontem lá, com a minha filha caçula - a mais velha estava brincando na casa de um amiga e também já tinha visto o velhinho outro dia, também no Centro Antigo.

A cavalgada começa com uma bandinha anunciando a chegada do famoso Vovô, o que já dá o clima. Após passar a bandinha, vemos a carruagem, puxada por cavalos brancos, com o Vovô Frio, também vestido de branco (suas vestes remetem à neve e ao frio desta época do ano), dizendo "Živijo" (a pronúncia é "gíuio", mas quer dizer simplesmente "oi") para geral e distribuindo balas para as crianças.

Eu filmei, mas, como estava empurrando o carrinho e com frio, a filmagem ficou péssima, então mostro este vídeo do Youtube, que está bem parecido com o que vimos ontem ao vivo:



Clarice, 2 anos, ganhou uma bala, mas, como não sabia o que era (ela nunca comeu uma bala nem vê isso comumente), achou que era um presente. Trouxe o tal presente pra casa, brincou com ele um tempo e, só depois, observando a embalagem, que tinha uns desenhos de frutas, me perguntou se podia comer. Eu disse que não, que tinha caído no chão, e ela não insistiu. O fato de ter sido presenteada pelo "Camaráz", que foi a maneira que ela encontrou para dizer o nome do velhinho, foi muito mais importante que o presente em si. Depois ela ainda o definiu como "aquele Papai Noel que fala živijo".

E é este o Papai Noel que importa para as crianças eslovenas. Elas ficam loucas atrás dele, querem estar perto, cantar músicas com ele. Pedi a uma amiga, brasileira casada com um esloveno, que mora aqui há muitos anos e tem uma filha de 7, para me contar como é na família dela.

Segue o relato da Andrea Brilej sobre o Vovô Frio e o evento que a empresa onde o marido dela trabalha preparou. As empresas eslovenas, públicas e privadas, levam o Dedek Mraz lá para estar as crianças e dão um dinheiro extra para os pais as presentearem.

"O evento acontece todos os anos. As crianças recebem um convite em casa uns 10 dias antes. No convite sempre tem um cartão de uma cor. Isso para separar as crianças por idade e receberem presentes compatíveis com a idade. Sempre tem um peça de teatro antes, relacionada com o Natal e o Ano Novo. Božiček (Papai Noel) normalmente nem é mencionado.

Acho que nem se discute nas empresas se vai ser Božiček ou Dedek Mraz, porque sempre foi Dedek Mraz e não há motivo para mudar.

Aqui na Eslovênia as crianças só falam em Dedek Mraz. Quase no final da peca, e muitas vezes conectado a esta, ele chega. As crianças ficam eufóricas. Ele conversa um pouco com as crianças, cantam musicas juntos e  depois começa a distribuição de lembranças (são presentes bem simples), de acordo com a idade. As crianças, quando chegam perto dele, normalmente entregam uma cartinha, ou levam um "papo cabeça", explicando que foram boas e obedientes durante o ano e dizem o que esperam ganhar quando ele passar em casa. Na verdade eles acham que esse evento e um encontro para eles entregarem os "pedidos" e se explicarem para ele.

Os presentes são comprados pela empresa, mas normalmente são bem simples. Um quebra-cabeça ou uma camiseta. Os pais também recebem um bônus para cada criança, para presenteá-las no dia 31. As crianças ficam eufóricas  e mal podem esperar o dia e a "conversa" com ele. Também tiram fotos. Só fazem isso para Dedek Mraz. Papai Noel vermelho é um tanto ignorado por aqui. Na verdade, Tomaž disse que ele surgiu depois da independência da Eslovênia e praticamente não tem importância. Na época em que ele era criança, o Natal passava como um dia comum, não ocorria nadinha de especial, nem jantar nem reunião familiar. Ganhava um presente simples no Ano Novo e pronto.

A Clara acredita em Dedek Mraz. Ela acha que Božiček e o "dia" e não a "pessoa". Em muitas casas, eles anteciparam a passagem do Dedek Mraz para o dia 24-25, pois as crianças não aguentam esperar e ver muitos amiguinhos com presentes novos e ter que esperar ate o dia 31.

Aqui em casa, por eu ser brasileira, antecipamos, mas quem vem é o Dedek Mraz. A Clara ainda deixa um prato com biscoitinhos separado para ele fazer um lanchinho, mas geralmente a passagem e tão rápida que ele só tem tempo de morder um biscoito e ela até hoje não o viu.

Estou ate feliz de não estar no Brasil agora, pela quase "obrigação" de presentear todo mundo, o que me deixa muito irritada. Acho que muita gente não entende isso. Sinceramente, o próximo Natal que passar no Brasil, vou propôr à minha família um Natal apenas com reunião familiar e sem presentes. Presente só nos aniversários.".

***

É isso, gente. E eu este ano paguei o mico de pedir para tirar uma foto com ele, só para mostrar para vocês. A Ciça, 5 anos, estava com vergonha, não queria ir de jeito nenhum, mas o Dedek Mraz a intimou e ela foi. Ficou toda contente depois - e teve a oportunidade de estar com ele de maneira mais próxima, já que a cavalgada é muito disputada.



Dia 31 está chegando, façam seus pedidos, quem sabe o Vovô Frio te faz uma surpresa?

Paloma Varón - Mãe de Cecília e Clarice. Nasceu em Salvador, morou em São Paulo, onde nasceu a primeira filha, e em Brasília, onde nasceu a segunda. Mudou-se com a família, em janeiro de 2012, para Ljubljana, capital da Eslovênia, onde tem aprendido a ser expatriada (se é que isso se aprende), a falar esloveno (idem) e a rir dos perrengues quando não pode evitá-los. Escreve o  www.fotocecilia.blogspot.com.

7 comentários:

  1. Oi Paloma, como estou aprendendo com esses posts todos!!! É incrivel como todo pais comemora as festividades diferente. Adorei o video tb. Eu acho uma opcao para a questao dos presentes, o amigo invisivel, principalmente qdo a familia é grande. E dizer que qto mais criativo o presente melhor, assim tb as pessoas tem a oportunidade de criar algo. Os meus filhos pro exemplo nao compram presente pra ninguem, eles fazem. Eu pessoalmente acho muito legal presentear, mas isso é quase um hobby já.
    Acho que um meio-termo entre nao presentear nada e presentear pouco é o amigo invisivel. Nao? Bjs Claudia, voltando pra casa hoje!!!! Jupiiiiiiiii

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    1. Claudia, como é que funciona o amigo invisível? É igual a amigo secreto? Se for, também prefiro, ainda mais para crianças, porque isso de receber dezenas de presentes (ainda mais os de plástico e/ou Made in China) não dá. Se eu já tinha uma visão crítica disso, imagine aqui, onde, em geral, o consumo é mais consciente e as famílias valorizam o que é feito em casa, pelas próprias crianças.
      Como a minha amiga que escreveu parte do texto, eu não gosto da obrigação de presentear, acho que a obrigação é que distorce as datas e os próprios presentes - porque, na ânsia de presentear, as pessoas comprar qualquer coisa, sem nem pensar se é adequado, se vai ser útil, criativo, divertido etc.
      Beijos

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  2. Olá Paloma! Já faz um ano que acompanho teu blog, estou adorando conhecer um pouquinho da cultura deste país tão distante, mas muito interessante.
    Tuas filhas são lindas, toda semana dou uma passadinha no blog, para "ver" as novidades. Um feliz ano novo para vocês!
    Beijos!

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  3. Oi, Bárbara, obrigada pelo carinho. A cada estação do ano, a cada festividade ou evento aqui na Eslovênia aprendo mais sobre o país. E eu adoro isso. Não resisto e venho aqui (ou lá no blog) dividir minhas descobertas com vcs.
    Beijos e um feliz 2013 para vc e sua família!

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  4. Só assim pra percebemos que existem tantas milhares de culturas diferentes sobre tantas coisas! Tô achando o máximo esses post, aprendendo um pouco de cada parte desse mundo! Mas sabe o que mais eu achei interessante? A Clarice não comer a balinha logo que pegou. Eu digo isso pq não importa o que eu dou na mão do Elias, ele leva pra boca na hora. Eu tb não dou bala pra ele, ele come a vitamina D dele e acha que é doce...rs rs, mas fora isso só uma pastilha que ele usa na creche pra "escovar os dentes" depois do almoço... Mas, duvido que se ele ganhasse não levaria imediatamente à boca...rs rs.

    Gostei do velhinho frio, tem cara de papai noel mesmo! :-)

    Beijos

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    1. Sandra, Clarice também põe tudo na boca, inclusive coisas que pega no chão. Mas esta bala ela achou que era um presente especial e meio que reverenciou o negócio, não quis colocar na boca, quis brincar (o papel era meio brilhante, isso a encantou). Ela ficou extremamente feliz que o Dedek Mraz deu o presente PARA ELA!
      Como ninguém disse que o nome daquilo era bala - e ela nunca tinha visto uma bala -, ela simplesmente não sabia do que se tratava.
      Beijos

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  5. Adorei! E esse Dedek é mais bonito q o Papai Noel "vermelho" mesmo!

    Achei o video lindo, os cavalos enfeitados, tudo!!

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